— Não gosto do tempo assim , ameno, sabe ? — Ela disse,
olhando para o céu azul que raiava lá fora através das janelas do restaurante.O
sol brilhava, mas ventava bastante retirando o calor do ambiente.
— Eu gosto. É o melhor tempo que tem, a gente não senti
frio, tampouco calor. — Ele respondeu com um sorriso.
— É por isso mesmo que não gosto. Não gosto de nada mais ou
menos.
— Como ?
— Mais ou menos. O tempo ta mais ou menos. Eu gosto de frio
que faz a gente tremer e se agasalhar com várias blusas de frio grossas, da
chuva forte, da neve caindo, de esquentar o corpo com um café bem quente. Gosto
também do calor. Do calor escaldante, que faz suar, aquele calor que você
procura uma praia , uma piscina ,uma ducha gelada para refrescar, o que tiver
ao alcance. Entendeu ?
— Acho que sim.
—Sim, ou acho que sim ?
— Sim. Sim.
— Que bom. Porque acho que sim é outro mais ou menos. É uma
incerteza, sabe ?
— Ah , é ?
— Aham. Veja bem, você não tem certeza que sim, você apenas
acha. Pra mim só devia existir o sim ou não. Acho é só achismo. Entende ?
— Acho é só achismo. — Ele repetiu. — Tipo, sem certeza, né
?
— Achismo é só uma especulação. Não quer dizer que seja
verdade.
— Entendi.
Ela sorriu.
— Acho que essa foi a conversa mais estranha sobre o tempo
que eu já tive. Pelo menos a conversa fluiu bem , fugiu dos clichês de falta de
assunto. — Ele sorriu.
— A conversa nem sempre flui muito comigo.
— Não acredito, você é tão bonita.
— Bonita e fechada. Beleza não Poe mesa, já ouviu ?
— Eu chamaria de misteriosa. E beleza ajuda a por a mesa —
Ele disse com um sorriso malicioso, arrancando uma gargalhada dela.
— isso de a beleza ajudar a por a mesa que você disse, não
faz sentido nenhum.
— Sem ofensas, mas você não faz sentido nenhum,minha
querida.
— Só porque eu não gosto de mais ou menos ?
— Basicamente.
— Então nem te conto
o resto sobre mim, se não você vai fugir.
— Eu não me assusto tão facilmente, ainda mais com mulheres.
Mulheres não me assustam. Só algumas.
— Tenho medo de entrar para a lista.
— Não tenha, as da lista são as mais interessantes.
— Você não perde uma!
— Eu ainda estou curioso com o negocio do mais ou menos.
Você não gosta de nada, absolutamente nada mais ou menos ?
— Não .
— Então você prefere ficar muito triste á ficar mais ou
menos triste ?
— Existe mais ou menos triste ?
— Claro que existe. Veja bem : você esta triste por causa de
uma coisa, mas feliz por outra.
— Então a coisa pela qual você esta triste não te deixa
realmente triste. Só parece tristeza. Mas pode ser só decepção ou cansaço ou
qualquer outra coisa disfarçado de tristeza. Acredite em mim , tristeza te
deixa realmente triste. Te faz chorar, ate te oculta a felicidade. Não existe
isso de mais ou menos triste.
Ele a olhava com uma expressão confusa.
— Ual, nessa você me pegou. Mas ainda não estou totalmente
convencido. Me diga, o morno, é mais ou menos ?
— É.
— Então você prefere um banho gelado ou fervendo á um banho
morno ?
— E essa foi a sua vez de me pegar. Você ta certo, dessa
vez.
— Me sinto incrível.
— isso é sarcasmo ?
— Não. Você não gosta de sarcasmo ?
— Na verdade eu gosto. É humor inteligente. Irrita as vezes,
mas eu gosto.
Um momento de silencio se sucedeu.
— Quer voltar pro mais ou menos ?
— oi ?
— O assunto , o mais ou menos.
— Tá bom.
—Então me conta mais de mais ou menos que você não gosta.
— Deixa eu resumir pra você : Gosto do intenso. Do anormal,
do encantador. Não quero metades. Aturo coleguismo por puro social. Gosto de
quem gosta de mim, não gosto de quem não gosta de mim, ou seja não quero
fingimentos. Quando choro, choro de mais , quando rio , rio demais. Quando bebo
provavelmente fico totalmente bêbada, por isso na maioria das vezes não bebo.
Ou chuto o balde completamente ou fico quieta. Tenho felicidade tão grande que
chega a irritar as pessoas, tenho melancolias tão grandes que beiram a
depressão. Crises nervosas com ânsia de vomito estão inclusas no pacote.Brigo
de gritar, mesmo sabendo que quem grita só quer se impor e perde a razão. Nada mais ou menos. Só o banho de morno.
Morno é chato, é comum. Não quero ser uma pessoa comum.
— Você definitivamente não é comum.
— Me abrindo com um estranho, você deve me achar louca.
— Não sou um estranho.
— Não, imagina , é só o cara que eu acabei de conhecer
batendo acidentalmente no meu caro e que estranhamente me ofereceu um almoço. E
já que nos já decidimos que cada uma paga o concerto do seu carro,começamos a
falar do tempo e aqui estamos. Então , não você não é um estranho, e eu não sou
uma louca.
— Quando você chuta o balde completamente você deve ficar. —
Ele riu. — Queria ver isso um dia. E ai
está seu humor inteligente, mais conhecido como sarcasmo.
Ela riu.
— Não te acho louca não. Muito menos comum. — Ele se
inclinou um pouco mais na mesa em direção a ela — Deixa eu adivinhar outra das
suas atitudes intensas : Nunca se abre, ou se abre de mais.
— Na mosca.
Ele olhou para o relógio.
— Meu horário de almoço acabou, tenho que voltar ao
trabalho.
Ele pediu ao garçom uma caneta, pegou um guardanapo e
escreveu um numero com oito dígitos.
— Eu gostei tanto do seu, digamos, estilo de vida, que eu
vou deixar meu numero aqui com você, pra
você me ligar, pra me ensinar a viver assim , que nem você , quem sabe.
— É, eu te ligo. A maioria dos homens fugiria de mim depois
de uma abertura problemática que nem essa.
— Não achei problemática. E a maioria das mulheres ficariam
inseguras de me ligar, mas já que você não é comum ...
— Deixa comigo, eu ligo. Já que você não fugiu até agora,
deixa eu dizer mais uma coisa, prova de fogo.
— Diga , estou pronto.
— Pra mim não existem romances mais ou menos, ou é intenso,
ou pule fora. Ou eu pulo fora. Não gosto muito de paixões , prefiro amor.
— É, eu já imaginava. Acho que eu estou entrando em
território desconhecido, mas vou tentar.
— Você me surpreende.
— Deve ser difícil ser surpreendido, quando geralmente é
você quem surpreende. Acho que eu tenho um termo que define você e que não usa
a palavra louca ou intensa.
— E qual é ?
— Encantadora filosofa de botequim.
— Não sei se gosto.
— Não cabe a você gostar ou não. — Ele disse , já de costas
, seguindo para o trabalho.
O resto da historia, você já pode adivinhar.
Cristiana Drumond.
Olá!Muito obrigada!Sim,estou cirando um livro!Espero ficar bom!
ResponderExcluirDaqui a pouco irei postar mais! :D
Sigo também com muito gosto :D
HAHAHAHAHAHA Que texto ótimo.
ResponderExcluirDá para "tirar" lindas e ótimas frases, já ficou algumas na minha cabela hoho
Esses diálogos prenderam minha atenção ;) Linda forma de escrita hehe
Adorei ler viu?
Tá lindo o Blog, sucesso SEMPRE ;)
Beeijão ;*
Ewerton Lenildo - Academia de Leitura
papeldeumlivro.blogspot.com
@Papeldeumlivro
Que lindo Cris, adoro diálogos e esse me tirou o fôlego! Amei.
ResponderExcluirLindo, lindo!!
ResponderExcluirAdoreii
Olá Cristiana :)
ResponderExcluirTô passando pra te mostrar o meu novo blog, http://artenarotina.blogspot.com
Ele é uma forma de jornal virtual completamente voltado pra cultura; então vale a pena seguir e conhecer ótimas dicas de livros, filmes, músicas e artistas!
De qualquer jeito, mt obg pela atenção. Um beeijo!
Uau, gostei muito :)
ResponderExcluirNossa que perfeito! Obrigada pela visita e estou te seguindo, por favor volte sempre, gostei muito do seu blog!
ResponderExcluirhttp://fazdecontatxt.blogspot.com
Seu blog é absurdamente encantador. Desde o visual até a sensação acolhedora.
ResponderExcluirE que texto, uau! Fiquei rindo aqui sozinha, reconhecendo minhas "loucuras" nessa garota.
E como arte e vida se imitam, fiquei até pensando se qualquer dia acabo trombando com um moço desses que faz você reaver suas próprias teorias.
Vou seguir e voltar e voltar.
Parabéns, moça talentosa.
E obrigada pela grata visita.
Muito fácil ler esse diálogo, mesmo comprido, mesmo cheio de surpresas. Porque você se encanta e quer mais, quer mais, até chegar no final e quase morrer. Adorei seu blog, adorei o texto e estarei sempre aqui pra morrer um pouquinho. Obrigada pela visita no meu blog e volte sempre. Cuide-se.
ResponderExcluirQuase morri lendo kk
ResponderExcluirmas gosto de narrativas e dá pra sentir muita verdade e sentimentalismo em tudo *-*
comenta de volta?
www.luliskd.blogspot.com
Nossa Cris, além de criativa você escreve muito bem Adorei o texto. Demorou pra eu terminar de ler, ufa, mas valeu a pena. Eu também sou meio assim, não gosto do morno não.. sou muito intensa pra coisas pela metade entende?
ResponderExcluirVi teu blog acho que no da Maíra Cunha e resolvi te visitar.. como gostei de tudo por aqui, já estou seguindo.
Beijos flôr e parabéns pelo lindo blog.
Bem, então estamos kits. SUDFYHDJSAKJ
ResponderExcluirEu adorei sua história, pois como disseram, é bem sentimental. KK, parabéns.!
Agora vou dizer porque estamos Kits:
Lembra do meu post de Votação para Histórias?
Então, eu postei a história que venceu. Infelizmente não foi a que você votou, mas ficaria muito feliz se você pudesse perder um pouquinho do seu tempo, para ler, e me dar a sua opinião.
Ela não é perfeita igual a tua, mas vale a pena conferir. HAUHAA
Muito obrigada,
nemsemprerealidade.blogspot.com
Filosofia de mesa de bar... Achei o texto bem construído, com diálogos reflexivos e intensos... Bonito mesmo.
ResponderExcluirGosto mto de diálogos e gostei muito do seu :) Parabens!
ResponderExcluirBeijinhos